Numa noite andando em Tokyo, passei por uma barraca “irregular” que ficava perto do caos da linha de trem de Shimbashi. Primeiro, não sabia o que era, pois tinha tanta gente em volta. E mesmo sem ninguém, o fumacê dos Yakitoris cobria o tiozinho baixinho com cara de Gene Hackman japonês.
Voltei 1h depois.
Ufa, ainda estava lá com 1 cliente apenas. Nem banquinho tinha. Era para comer em pé. O tiozinho me olhou, sorriu e:
“E aí NIICHAN (algo como Brother), o que vai querer?” Já gostei da abordagem.
“O que tem de bom aí?” respondi no mesmo tom.
“Aqui tudo é bom HAHHA” Adorei!
Ele puxa uma caixa de carvão e: “Senta aí.”
E começamos a conversar e beber cerveja da Suntory Malts da lata dourada. E nisso ele ia assando os maravilhosos Yakitoris. Começou com KAWA que é a pele do frango no sal. Bom para quem está bebendo. Depois foi o fígado e chegando no peito que já trocava para o TARÊ たれ.
Diferente de muitos que usam vasos de cerâmica para guardar o precioso molho, ele usava uma panela velha. E reparei:
“Pela crosta que está borda, esse TARÊ deve estar com uns 20 anos, não?”
Ele arregalou os olhos, aí sim parecia o inimigo do Super Homem.
“Tem 22 anos. Você é do ramo? Normalmente, eu deixo aqui escondido, pois acham que está sujo. Cara, como é bom ver alguém que entende.”
Ele me contou que teve uma vez, que clientes saíram na mão e teve a sua barraca toda destruída. A única coisa que ele fez foi pegar e abraçar a panela, mesmo queimando as suas mãos.
“Nessa panela, começa com alguns temperos. Depois a própria proteína vai temperando. Depois de anos, é a vida que vai me temperando. Quando comecei, andei por várias casas de Yakitori, de Unagui para provar muitos TARÊs. Nunca vomitei tanto, pois o molho é muito denso e doce. Mas cheguei na conclusão, que cada receita é como a vida. Que cada um crie e cuide da sua.”
Ao me despedir, queixei que poderia ter mais contatos para indicá-lo. Então ele solta:
“Niichan, as melhores comidas não se acha na internet HAHAH”
Nunca mais achei a barraca.
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