Depois de passar por Iwate e Shizuoka, chego em Kyoto 1 dia antes do grande dia para o Adegão. A Condecoração do Sake Samurai onde uma comissão de produtores de sakes, recebem indicações de outros produtores de sakes do Japão todo analisam e levam em consideração vários critérios para eleger as personalidades que ganharão o título. Óbvio que eu não sei até hoje, quais são eles.
Então imagine a minha emoçã, for que dias antes eu havia perdido o meu pai. De um lado o meu inseparável cigarro e na outra o meu coração. E lembro que cheguei na antiga capital do Japão e fiquei quase o dia todo no quarto do hotel. Sei lá, eu achei que devíamos permanecer no hotel em standby para estarmos à disposição dos organizadores. Vamos combinar que fora as redes sociais, eles não tem como entrar em contato com a gente, exceto o hotel.
Mas não fui requisitado para nada. Quase 17h e pensei.
"É a 6º vez que venho para Kyoto e já vi de tudo dessa cidade, pelo menos os pontos turísticos. Só que nunca fui ao Santuário KIYOMIZU à noite. Acho que seria um bom momento para olhar Kyoto lá de cima."
Só que faltava 30 min para chegar. Nem pensar em subir rapidão, tirar uma foto e descer correndo. Sem condições. Ah então, vou é dar um rolê à pé mesmo. Peguei uma camiseta para a noite fresca de Kyoto quando me deparo com a minha camisa dobrada novinha. Embora toda embalada e bonitinha, mas estava com dobras.
"PQP!! Esqueci de pendurar a minha camisa!!"
Bom, antes de dar a voltinha, vou pedir para o serviço de quarto lavar e passar minha camisa. Liguei para a recepção e ouço que posso deixar as peças dentro da sacola que está disponível nos quartos que todos os dias às 8h será recolhido para serem entregue no mesmo dia.
Eita!! Ferrou!! Expliquei para a moça que precisava para amanhã cedo, mas não tinha como resolver. Fiquei em pé ao lado da cama e: "Pelo menos se pudesse passar ferro, já tá bom." E cadê o ferro?
Saí do quarto e olhei para os dois lados do corredor. E uma senhora camareira estava passando e acho que estava com uma cara horrível de desespero que ela acelerou os passos e:
"O senhor está bem? Posso lhe ajudar em algo?"
Expliquei e ouvi a mesma coisa da moça da recepção, queria emprestado um ferro que não tinha. Bom dó me restava umedecer as partes dobradas e deixar esticada no cabide, pensei.
"Se o senhor não se incomodar, posso levar a sua camisa para minha casa e passo lá. Amamhã de manhã eu trago deixo na recepção para o senhor."
Nossa, como ouvisse harpas e cano gregoriano, entreguei a camisa à ela e quase me ajoelhei.
Na manhã seguinte, a moça do Concierge me liga dizendo que a minha camisa estava disponível. Fui lá rapidão e estava lá a minha peça impecável! Feliz da vida e encostado no espelho do elevador, me dei conta de que não perguntei o nome da camareira.
Bom, mesmo que eu procurasse de manhã, não deve ser o turno dela.....meu deus, fiz a senhora entregar fora do horário de trabalho dela.
Tinha que fazer algo! Vou é deixar o dinheiro na cabeceria e com um Obrigado. E fui para o grande evento. Foi lindo! Todo o ritual, botei Kimono de Gala chamado de MONTSUKI HAKAMA. Depois a coletiva de imprensa e a festa de recepção em um Ryoutei de responsa. Voltei caindo de bêbado e me deito na minha cama. Viro para a cabeceira e vejo o dinheiro dobrado e um par de origami de Tsuru verde e amarelo em cima. Só a cartinha do Obrigado havia sido levado, em sinal de que tinha lido.
Em silêncio só com a luz do abajur iluminando a minha cara, sorri e agradeci à ela. De coração. Um show de Omotenashi, o atendimento além da expectativa. Não paguei em dinheiro, mas tenho uma dívida bem grande com ela.
E nem sei o nome dela...
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