Eu lá ainda jovem e zanzando por Kyoto, me deparei num loja com fachada toda feita de madeira gasta, porta de correr que nem precisa de sensor de movimento, de tanto barulho que faz.
Por dentro é pequeno e escuro, alguns bancos de madeira, e um vitrine balcão com Wagashi, os lindos docinhos japoneses que combinam muito com chás. Eu meio retardado para doces caseiros e pedi 6 de cada de 4 tipos de doces coloridos.
Então a Palmirinha de Kyoto, toda sorridente, me mostra o aviso na parede: 一見客はお断り = Não se atende Cliente na Primeira Vez. Não entendi. A mesma sensação de: "Admite-se somente pessoas com experiência.
Bom, tirei meu passaporte e disse que eu era estrangeiro, mas falando tudo em japonês. Mesmo com cara de pena, ela explicou assim:
"Sou uma velha que faz esses doces há 60 anos.Como pode ver, não consigo fazer mais que eu posso. Então, não posso vender na quantidade que o jovem está pedindo. Além do mais, preciso deixar reservado para os meus fiéis clientes que vem comprar sempre.
Fala pra um gordo que não pode comprar doces. Implorei. Disse que não voltaria tão cedo ao Japão, que vim de muito longe, que gosto muito de Kyoto, inventei e aumentei os argumentos pra ver se ela vendia pra mim.
Não. Fiquei lá pensando: "PQP. Contrata gente, ora. Ou deixa fechada a loja atende os fregueses por telefone. Enfim.
"Então, quer dizer que alguns estabelecimentos tradicionais de Kyoto, não atendem cliente de primeira viagem, por desconhecer o sistema da casa, da cultura e tal. Que somente é atendido por indicação de algum habitué ou se eu voltar na próxima vez?" A senhora concorda com a cabeça e sempre sorrindo.
Me despedi, virei as cotas, pus os pés pra fora da loja, fechei a porta e ainda com a mão na maçaneta de correr, abri novamente e: "Voltei. Como vai a senhora? EEE!!!"
Ela me vendeu 2 de cada e não parava de rir. Sou brasileiro, cara de pau, gordo e não desisto nunca!
Lembrei desse post batendo papo com o @yoshiwagner sobre perrengue no atendimento.
HAHAHAHHAHAH
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