Não sei se muitos sabem, mas depois que saí da saudosa Varig e antes de mergulhar no Sake literalmente, passei um período dentro da cozinha da minha família fazendo BENTÔs nas lojas no fundo da Casa Ono, ao lado da Peixaria Mitsugi.
Até então, meus pais montavam as marmitas japonesas em pratos de isopor. Então, eu formado em design, sugeri se não ficaria mais legal e bonito se pesquisarmos embalagens descartáveis do Japão. Eram caixas pretas ou vermelhas, com desenhos discretos em dourado e com divisória. Pedimos para a importadora trazer e a coisa bombou.
Só que não entendi muito os tamanhos de cada nicho e muito menos porque aquela caixa se chamava MAKU NO UCHI BENTÔ. Então carinhosamente, Seo Iida me disse:
“Caramba, você não sabe isso e sugeriu trazer essa caixa. Mas é um imbecil.” Que amor. “Significa comida de bastidor.” Opa, entendi tudo. Vou contar em detalhe.
MAKU = “Cortina” e UCHI = “Enquanto”. Traduzo melhor: “Enquanto as cortinas (são fechadas)”. Este estilo de Bentô começou nos teatros de Kabuki no fim do período Edo, quando as cortinas fechavam para desmontar e montar os cenários, os atores e staff aproveitavam para comer um lanche e fumar.
Então esses Bentôs eram pratos simples de porção menor e não podiam pesar tanto. E como quem preparava não fazia ideia do gosto de todo mundo, colocava-se de tudo: Além do arroz, fritura, assados, cozidos, conservas e salada. E a marmita virou um momento prazeroso, pois quem comia podia degustar um pouco de cada ingrediente.
E logo essa novidade foi parar para o outro lado da cortina e os MAKU NO UCHI BENTÔs passaram a ser vendidos aos espectadores.
Esse método de servir um pouco de cada, segue também a filosofia budista SESSHU FUSHA 摂取不捨 de não priorizar uma comida e não desperdiçar nada. Então o MAKU NO UCHI BENTÔ é um Bentô Omakassê e ao mesmo tempo é um Kaiseki, pois vem tudo.
Na verdade falar de BENTÔ que nasceu no Séc V é um tema muito longo, mas aos poucos vou postando.
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